Uma das principais dúvidas que cerca a relação empresarial é o quão sinceros nós podemos ser. Porque, no fundo, o que se espera é uma sinceridade compatível. Logo, quando um chefe pergunta para o seu funcionário se ele está feliz, a resposta prevista no script é: “sim”. É a mesma expectativa carregada pelo criativo que aborda o colega com a frase: “tive uma ideia genial. O que você acha?” Ele não quer uma opinião, quer uma confirmação. De verdade, não estamos preparados para quebrar as nossas certezas. Em uma recente pesquisa publicada na Você S.A., mais de 70% das pessoas disseram estar infelizes no trabalho. Talvez seja a hora de começar a abrir espaço para respostas não esperadas.
A insatisfação ronda as agências como uma bruma silenciosa. É muito difícil perceber os sinais olhando de cima da neblina. Eles, em geral, começam nos assistentes, na ala mais júnior, nas pontas em que o salário não é suficiente para anestesiar. Nas outras áreas, há o dinheiro, o status, os antidepressivos e ansiolíticos. Sugiro o seguinte exercício: mencione que você toma um tarja preta na criação, finja que esqueceu o nome e espere. Aposto em uma profusão natural de Zoloft, Pristiq, Cipramil, Prozac, Fluoxetina, Rivotril, Lexotan. Fale sobre Dormonid e escute sobre Stilnox. Fora o café, o Red Bull e as variantes que nos deixam acordados. O assustador é que fale-se tão pouco sobre esse mal.
Vivemos sob uma falsa verdade de que a felicidade só pode ser conquistada com sofrimento. O bom trabalho só surge da pressão. Ficamos doentes sem notar. É um processo insidioso. O cabelo cai, a pálpebra treme, o pescoço dói e achamos que não é nada. Um amigo criou um sistema para notar se há algo de errado com a equipe. Basta realizar um cruzamento de pedidos de reembolso de psicoterapia, psiquiatria e até fisioterapia. Se muitos surgem do mesmo setor, é porque algo não anda bem. A função do RH passa a ser de alarme de emergência. Péeeeeee!
Até 2020, a depressão será a segunda causa de improdutividade das pessoas, seguida apenas de doenças cardiovasculares. Nos EUA, o estresse provoca um custo de mais de US$ 300 bilhões. No Brasil, esse custo pode chegar a quase 4% do PIB, como diz André Caldeira, uma das poucas vozes a tocar nesse assunto. É um cálculo que deveria mexer com as empresas. Envolve absenteísmo, baixa produção, falta de comprometimento e dificuldade de reter talentos. É um perder eterno. Não é por acaso que o turnover nas agências seja tão intenso. Qualidade de vida ficou démodé.
É comum, entretanto, a reclamação sem movimento. O rosnado na inércia. Ficamos presos em uma zona de conforto do salário, sem coragem de andar. Como bem define a Luciana Ceccato, somos prisioneiros com uma bola de diamante presa ao pé. Falamos que não aguentamos mais carregar o peso, mas não o abandonamos porque, afinal, é diamante. Isso inclui os chefes.
O que me leva a Jon Favreau e um final com um sopro de esperança. O aclamado diretor da franquia Homem de Ferro está em cartaz com a módica produção: Chef. O personagem é um chef de um grande restaurante cercado de pressão. Após uma discussão, ele mantém seus valores, sai do emprego e se vê dentro de um food truck. Nas palavras de Jon, ele fez esse filme para não responder a ninguém, para fazer tudo em uma escala pequena o suficiente para expressar a própria voz. Diretor e personagem misturam-se em busca de uma sensação inspiradora: a do recomeço. Eu me misturo a eles. Em um certo diálogo, o chef diz: estou completamente perdido. E a hostess responde: esse é um bom lugar para começar. Tudo bem que a frase vir da Scarlett Johansson facilita muito a decisão. O chef encontra a tranquilidade e a Sofia Vergara. Não espere tanto. A tal da felicidade é difícil de achar, mas parado e reclamando é que ela não vem mesmo.