O experimento é simples: cinco macacos dentro de uma jaula e um cacho de bananas no alto de uma escada. O chamariz é irresistível. A pegadinha reside no fato de que, se o macaco tentar pegar a banana, os outros tomam um banho de água gelada. Com o tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros sentavam a mão nele. O condicionamento criou uma atmosfera em que nenhum dos macacos pegava a banana, apesar da tentação. Já seria uma boa metáfora para a vida nas agências, mas os cientistas foram além e substituíram um dos símios do grupo por um novo. Claro, ele não sabe das regras, vai direto na fruta e leva uns cascudos. Aos poucos, eles vão substituindo todo o grupo. Ao final, temos cinco macacos que, mesmo sem um porquê, continuavam a punir quem tentasse pegar as bananas.
Uma equipe que já terminou o seu trabalho, mas não vai embora porque o chefe continua sentado na mesa é um paralelo e tanto com essa experiência. Tal e qual os símios, os funcionários parecem temer um banho de água gelada. Aceitamos as coisas como elas são sem questionar. Por mais injustas que elas pareçam. A diferença é que nós temos o poder de dialogar com racionalidade e ainda assim não o usamos. Pode um homem gritar com uma mulher no meio da agência e ninguém se intrometer? Pode um chefe humilhar o seu time sem que nenhuma daquelas tristes almas levante a voz? Tem algum cabimento você aceitar regras que vão de encontro aos seus valores? A única explicação é que as pessoas se acostumam a tal ponto com um ambiente nocivo que preferem não pensar no que as cercam. O que resulta em frases do tipo: “em toda agência é assim” , “em tal lugar é muito pior”, “nem tente argumentar, porque fulano se deu mal”. O cacho de bananas está ali pertinho, mas ninguém se atreve a pegar. Opinião é um troço muito perigoso em determinados ambientes.
A segunda experiência com macacos envolve pepinos e uvas. Os cientistas designaram uma função para dois símios que estão no mesmo nível de hierarquia. Se os dois ganham pepino para executar a tarefa, tudo certo. Se os dois ganham uva, melhor ainda. O problema começa quando você dá pepino para um e uva para o outro. Os animais não aceitam a diferença. Ao ver o colega da gaiola ao lado ganhar uva, o que ganhou o pepino sai de si. Ele não aceita mais o pepino entregue pelo cientista, sacode a jaula, entra em revolta.
Em recente entrevista, Dunga disse que não acredita em privilégios para os gênios. Teme perder o grupo. O experimento mostra que ele tem razão. Uma verdadeira equipe joga junto, veste a camisa, luta por algo que todos saem ganhando. É muito mais fácil, porém, incitar as individualidades, criar tensão. O resultado é cada um por si, um time desmembrado até nos objetivos. É um erro comum que ajuda a explicar o alto turnover nas agências. Um exemplo? Você separa um grupo para criar sem briefing, mirando os festivais e deixa o outro lidando com o osso do dia a dia. Para quem ganha uva é o modelo ideal. O perigo mora no balançar da jaula de quem ficou com o pepino.
O último experimento é o mais singelo de todos. Um macaco está solto em frente a uma bela oferta de comida. Ao seu lado, há outro ainda preso na jaula. Consternado, o símio destranca o seu semelhante para dividirem as frutas.
Aqui entra a moral da história. Qual dos macacos você gostaria de ser? Qual você gostaria de ter ao seu lado? A minha resposta não mudou no curso entre ser comandado para comandar. De todos os experimentos, escolho o mais difícil de colocar em prática. Prefiro ter na equipe pessoas que sejam capazes de olhar para o outro. De dividirem a uva e o pepino. Aposto mais na intuição de cada um do que no condicionamento. A gaiola é melhor aberta.